Ceci Alves
Sou de um tempo em que se dizer “vou ao Pelourinho” causava pânico só de ouvir. Sabe aquelas famosas excursões escolares de visita ao Centro Histórico de Salvador? As mães não podiam nem ouvir falar nisso que se arrepiavam inteiras – isso quando deixavam seus rebentos ir. Minha mãe, então, se soubesse que eu e minha irmã, Lairzinha, íamos até lá, primeiro, vinha com a saraivada de perguntas: vai com quem? Tem professor homem para guardar vocês de qualquer coisa? Volta antes das cinco? Tem que voltar, hein? Não deixa escurecer lá, não! E, quando ela finalmente deixava a gente fazer o “safári”, passava a tarde toda na soleira da porta, esperando que chegássemos.
Assim foi durante toda a nossa adolescência. Incontáveis vezes tínhamos que ir lá por obrigações do colégio, e, para que nossa mãe não sofresse, mentíamos o lugar para onde realmente íamos. Mas o medo também nos achacava: o senso comum rezava que o bairro era perigoso, pelo depauperamento dede seu conjunto arquitetônico e pela dita concentração de “vagabundos” e “prostitutas” por lá. Assim, sempre que se fazia necessária a incursão pelo bairro, levávamos um amigo homem – e bombado – à tiracolo, para nos “garantir a segurança”.
Mas aí veio a década de 90 e, com ela, o Olodum, e esse quadro começou a mudar. Com a proposta de revitalizar o ser humano e o espaço que o cercava com a música, ele começou a soerguer não só a reputação do lugar, como o espaço que ele ocupava no imaginário coletivo baiano. Tudo bem, teve a reforma, depois. Mas a principal reforma, a do pensar e do imaginário coletivo, quem começou foram eles.
Falei de Olodum para entrar no verdadeiro assunto deste post: o dia em que fui mais feliz no Pelourinho. Eu e minha irmã. Tem a ver com Olodum e com uma história do Pelourinho que começava a nascer junto com a nossa idade adulta. É como se nós três, eu, Lairzinha e o bairro, estivéssemos amadurecendo ao mesmo tempo e juntos. Tem a ver com o dia em que Paul Simon e a World Music descobriram o caminho das cabeças-de-negro (como são pejorativamente chamados os paralelepípedos que calçam as ruas do local) do Pelô para o sucesso.
A ser continuado...
De volta, mesmo!
Há 15 anos
3 comentários:
Amiga, adorei a iniciativa...
Parabéns!
Besitos
Eu sou desse tempo tambem. Só de imaginar ir na praça da Sé já dava medo. Só que ai fui crescendo, me libertando do medo, ao mesmo tempo que tudo lá tambem foi mudando. Que bom lembrar disso...
Eu não fui desse tempo, mas descobri o pelô de uma maneira deliciosa, precisei de alguém muito espeial para pedir a minha mamy e foi numa terça maravilhosa de benção será que pode lembrar quem me levou para o pelô??????
Valeu por me proporcionar tantas alegrias.
Beijossssssssss
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