Para alguns visitantes, a situação no Pelourinho parece confortável. Tombado pela Unesco como patrimônio da humanidade, o local reúne grandes casarões dos séculos XVII e XVIII, igrejas, casarões com decorações clássica e barroca, culinária típica, mulheres vestidas de baiana e o batuque típico da região em cada canto. Tudo ao estilo das propagandas da Bahiatursa, aquelas feitas para vender mesmo. Pelos olhos de quem conhece o Pelô, contudo, a perspectiva é outra.
Os antigos moradores do Centro Histórico da capital baiana, que foram obrigados a abandonar os casarões seculares onde viviam em função da revitalização arquitetônica da área há cerca de cinco anos, criaram uma associação e vêm se mobilizando para evitar que o maior conjunto arquitetônico histórico do Brasil, caia, mais uma vez, no ostracismo.
Apesar de não estar mais dentro dos casarões, a maioria deles não desistiu do lugar onde cresceram e trabalharam ao longo de suas vidas. Hoje, mesmo morando de favor na casa de conhecidos, de parentes ou em cubículos localizados nas proximidades do Pelourinho, os representantes da associação lutam para que o estigma do consumo de drogas não prejudique ainda mais a imagem do local.
O problema de entorpecentes tem causado um efeito dominó. Com tantas cenas de meninos - muitos deles com idade inferior a 10 anos - usando craque nas ruas cheias de história do Pelourinho e com pedintes em cada esquina, os turistas têm desaparecido do local. O cenário composto por crianças dormindo em bancos e nos calçadões também afastam os visitantes. Sem eles, o comércio não tem condições de se manter e têm muita loja e bar, consequentemente, fechando as portas.
Depois de perder suas casas, os integrantes da Associação que viveram no Pelô a vida inteira e viram a região passar por tantas transformações têm medo, agora, que as novas mudanças tragam mais dificuldades Como são todos de classe muito baixa e sobrevivem do sub-emprego, as chances de conseguir atividades temporárias para o sustento dos filhos diminuem consideravelmente.
Por conta do problema que atinge não somente os moradores, mas também os vendedores e comerciante do centro, Luis Henrique, presidente da associação de moradores do Pelourinho que foi criada há cerca de oito meses, faz um apelo ao poder público para resolver a situação no Pelô: “Varias pessoas estão deixando de trabalhar e não temos mais onde ganhar dinheiro. O Governo precisa fazer alguma coisa”, desabafou.
“Os comerciantes estão indo embora, os turistas estão indo embora e até as trançadeiras, tão famosas no Pelourinho, estão, aos poucos, saindo daqui. Precisamos melhorar a imagem que as pessoas têm do Pelourinho. Estamos cansados de ver nossas crianças usando drogas e dormindo no chão sem que ninguém toma nenhuma providencia para ajudá-las”, acrescentou Henrique.
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