O primeiro olhar, o que abre esse blog, é o do fotógrafo Fernando Vivas. Um dos melhores artistas dos olhos que eu conheço

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Pelos olhos do cinema - por Magê

Este é o Pelourinho, pelos olhos de minha amiga querida Magê, cineasta, mezzo-italiana, mezzo-paulistana:
P.S.: Magê, se lembra que vc quase não sai mais do Pelô? Bjs!


Carnaval de 1996. Minha primeira vez na Bahia, em Salvador. Não sei se é a melhor época para conhecer e ter a primeira impressão sobre a cidade, porque o Carnaval, todos nós sabemos, distorce um pouco as coisas, a realidade – e no caso de Salvador, tenho certeza que também a ressalte.
Na cidade, eu era hospede de uma soteropolitana ah doc, que tinha conhecido não havia assim tanto tempo (só um ano antes), mas já transformada em grande amiga. Eu estava em ótima companhia. O que nos ligou um ano antes tinha sido a paixão pelo cinema, e me lembro que, quando cheguei a Salvador, tinha uma espécie de obsessão ou de dever: eu queria conhecer a famosa Igreja do Paço, cenário do então filme brasileiro de maior sucesso nos festivais internacionais (ainda estavam por vir Central do Brasil, Tropa de Elite...): O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1962.
Lembro-me que, chegando ao Pelourinho, fomos direto pra lá. Acho que nem prestei atenção ao bairro, deixei tudo para depois, eu queria ver aquela igreja, aquela escada comprida que conduz até a porta, ponto de chegada e leito de morte de Zé do Burro (personagem de Leonardo Vilar).
Impossível não olhar pra cima quando se chega em frente ao portão que fecha a escada. E lá em cima está ela, a Igreja do Paço, mal cuidada, fechada, de certo modo até feia, mas não por culpa sua. Minha decepção por não poder entrar era grande, não conseguia me lembrar do pouco que tinha visto do interior no filme, quando no final Zé do Burro entra morto, carregado pela multidão. Fiquei ali com o filme na cabeça e tiramos fotos: eu sentada na escadaria, eu e minha querida amiga Ceci sentadas nas escadas e mais uma dela sentada em frente à porta verde da igreja.
Voltei 8 anos depois, casada com um italiano e o carreguei para a igreja e contei para ele a historia do filme, de uns dos mais belos filmes do cinema brasileiro e tirei outras fotos: com meu marido e como não podia deixar de ser, com minha amiga Ceci. E me lembro de tantas outras coisas no Pelourinho, mas para mim o Pelourinho será sempre a Igreja do Paço.

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