Ceci Alves
Eu não me lembro mais de detalhes - foi há muito tempo atrás, em algum lugar no início da década de noventa. Eu sei que estava nos primeiros semestres da Faculdade de Comunicação da Ufba., e já tinha aquela carteirinha de estudante de jornalismo, que é como uma identificação de que vc já está apto a entrar nos lugares, se apresentar como um repórter e fazer entrevistas (e eu me sentia toda prosa com aquele pedaço insignificante de papel!).
Me lembro também que, naquele dia, eu cheguei esbaforida da faculdade em casa, e encontrei minha irmã, Lairzinha, desesperada - detalhe importante: minha irmã NASCEU fã de Paul Simon - sem saber onde iam ser as gravações do clipe The Obvious Child, que ele tinha vindo à Bahia fazer, com o Olodum, e dirigido por Ruy Guerra. E eu, aquelas estudantes de jornalismo que desde cedo foi fuçadora e sabia o que queria (ser repórter da área de cultura, óbvio), irrompi no quarto dela com a resposta na ponta da língua:
- É no Pelourinho! Vamo!
Minha irmã deu um salto, pôs uma camiseta que tinha mandado fazer de silk-screen de Paul Simon (era uma espécie de "paráfrase" da capa do disco One Trick Poney, acho), pegou uns discos dele, para tentar conseguir algum autógrafo, e a gente saiu doida de casa. No caminho, fomos bolando o que chegar o mais próximo possível do set, ou até mesmo invadí-lo. Uma operação de guerra.
Chegamos cedíssimo em frente à escadaria do Paço, a mesma que serviu de locação, na década de 60, para o filme O Pagador de Promessas, um dos meus preferidos e cultuados (o Pelourinho sempre presente...). Eram 13 horas e só a produção do clipe estava colocando as coisas em ordem. Fiz um rápido reconhecimento de campo, enquanto minha irmã tentava se esconder em um casario daqueles e implorar por uma janela para, pelo menos, ver a paixão da vida dela a alguns metros de distância. Mas eu queria mais, queria era entrar no set, deixar ela cara a cara com o tal der Paul Simon. Ou, pelo menos, o mais perto possível.
- Olha, Lairzinha, pela escadaria não dá, o acesso tá bloqueado. Mas, olha lá em cima, deve ter outro acesso para a Igreja, não?
Minha irmã não queria arriscar. Ela já estava achando bom demais estar ali. Fui arrastando ela pelas ruas de paralelepípedo - que, anos mais tarde, levaria Michael Jackson à queda, mas, aí, já é outra história... - até o pé de uma ladeira transversal, à rua principal, que nos deixaria em frente à Igreja do Paço. Minha irmã relutava em subir: achava que era proibido, que seríamos pegas, esses medos. Fui puxando ela, que resmungava e choramingava, me chamando de teimosa, dizendo que eu estava estragando tudo.
Galgamos a ladeira e demos de cara com a balbúrdia da produção do clipe. Era como se um mundo novo, fora dali, tivesse sido descortinado pra mim. E Lairzinha, então, nem acreditava. Respirei fundo e continuei minha batalha para entrar no set, levar minha irmã para seu grande sonho. Cheguei perto do segurança e exibi aquela minha carteirinha, da qual falei no início do texto, dizendo que era da imprensa, com peito estufado e tudo. E, o mais engraçado: tentei entrar no vácuo de Ruy Guerra, que estava chegando naquela hora para começar a dirigir o set.
Claro, o segurança me barrou, e ainda riu de mim. E minha irmã ficou ainda mais nervosa por eu ter tentado aquilo. Se fechou em copas, baixou a cabeça, envergonhada. Foi quando o milagre aconteceu. Mas, eu não vou contar, não. Vou deixar que a foto que abre este post mostre e vou postar aqui, depois, um texto de minha irmã que vai ser mais fiel à emoção do que qualquer relato meu.
De volta, mesmo!
Há 15 anos
Um comentário:
Acho que não tem um baiano que não tenha uma história pra contar do pelourinho...não sou desse tempo aí não, mas já passei bons momentos lá,qndo ainda podia andar tranquila altas horas da noite.
Amiga boa sorte
Bjs
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